Zona Obscura - Quadragésimo nono

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49 – Salvamento Mortal

  O boato da morte de Wallace depressa se espalhou por todos os cantos da vila. Apesar dele não ser um dos chefes mais amados a perda continuava a ser significativa. E cada vez mais os moradores se lembravam do que acontecera à cinco anos atrás. Era como entrar numa espiral e voltar a viver tudo novamente. Não podiam negar que estavam assustados mas aquela não era altura de se acobardarem e esconderem-se nas suas conchas.
  Por outro lado havia aqueles que apenas viam o inimigo que tinham à frente. Fosse pela vingança ou simplesmente pelo puro divertimento da matança.
  E num dos focos da batalha era a segunda hipótese que reinava.

  Não foi preciso muito tempo para que de matar para proteger a cidade Karin Suzuki passasse a matar por pura loucura. O cheiro do sangue penetrava nos seus pulmões estimulando partes do seu cérebro que a faziam agir apenas por instinto, como qualquer outro animal selvagem na luta pela sobrevivência.
  Perto dela também Heiki Hanyou tratava de satisfazer o seu anormal desejo de ferir pessoas.
  - Tsh!
  - Então Hanyou, cansada de ser sádica? – Ironiza Karin batendo de costas contra a traficante enquanto estavam cada vez mais cercadas.
  - Não me entendas errado. Para mim dor é só nos outros. – Rosna a mulher lambendo um novo corte num braço.
  - Só por curiosidade, quantas balas tens nessa geringonça?
  - Depende de quantos tiros queiras dar.
  - Diz-me que dá para matar metade destes parasitas.
  - Se fizeres milagres tudo é possível.
  A serial killer suspira. As coisas estavam piores do que previra. Alem disso o odor a sangue não a deixava raciocinar com clareza.
  Enquanto isso Heiki usava a coronha da espingarda para derrubar os inimigos evitando desperdiçar as poucas munições que lhe restavam. Resumindo, enfrentavam uma crise.
  É então que, como por magia, os homens à frente delas começam a cair.
  - Estás a fazer milagres Suzuki? – Heiki olhava desconfiada para o monte de corpos que se acumulava.
  - Estão bem? – Uma voz grave e masculina sobressai do outro lado.
  - Ah, é aquele tipo de Grey. – Karin reconhece Renan. – Salvaste-nos.
  - Não deviam se isolar, assim fica mais difícil se livrarem deles. Cheguem-se mais para o cen…
  Seja lá o que Renan fosse dizer, uma bala interrompe-o. O buraco deixado para trás era acompanhado por um fio de sangue que escorria pela face. Um tiro limpo na testa.
  O corpo cai confundindo-se com os outros anónimos espalhados por ali.
  As duas mulheres fogem a tempo de encontrar abrigo atrás de um carro capotado.
  - Morreu? – A pergunta da serial killer soa inusitada até para ela.
  - Nem te respondo. O melhor é começares a pensar numa solução para sairmos daqui.
***
  Apesar de preferir armas mais tradicionais em casos como aquele os gostos ficavam para segundo plano. Por muito rápida que fosse com o arco, com todos os inimigos que a rodeavam nunca conseguiria sobreviver. Mesmo assim o rio de invólucros aos seus pés anunciava quantos já tinham sucumbido perante ela.
  Para piorar, a única companhia que tinha era a pessoa que mais odiava naquela cidade.
  Era um conflito mental para Lola. Quanto mais tentava focar-se nos desconhecidos que tinha de matar mais a arma se desviava na direção de Bernard. Como se o universo lhe dissesse que aquele homem tinha de ser morto.

  Ao longe havia outra coisa que a incomodava. Uma figura que parecia observá-los. Talvez estivesse a ver coisas por causa do stress da guerra mas quase podia garantir que algo ou alguém estava de olho neles.

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