Zona Obscura - Quinquagésimo quarto

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54 - Morte Ao Ceifador
  Sempre que se ouvia o barulho do moto-serra a acelerar era impossível não temer pela sua vida. Por muito afastado que se estivesse o sentimento de que aquele "monstro" estaria apenas a divertir-se até à hora de os eliminar fazia todos os lutadores concentrarem-se nos seus instintos, pois essa seria a única maneira de terem alguma chance de sobreviver. Sentiam-se como ratos enjaulados onde alguém perverso o suficiente teve a ideia de jogar lá um gato esfomeado.
  Por outro lado, havia uma pessoa que se encontrava distraída demais para notar o pânico que a rodeava. Graças a Davis e Adam, que a certo ponto desistiram de tentar entrar naquela luta insana, formara-se uma espécie de arena à volta dos dois. Mesmo que usassem a desculpa de que estavam a afastar os inimigos que queriam aproveitar a distração da tal pessoa para a atacar pelas costas, a verdade é que nada disso era correto. Afinal tanto aliados quanto inimigos estavam tão aterrorizados que ninguém tinha coragem de se aproximar num raio de dez metros ou mais. Como tal era como se lutassem praticamente sozinhos.

  Já não bastava a cara dele ser irritante e nojenta para Raven, Vlad ainda insistia em dar gargalhadas sinistras enquanto atacava impiedosamente e sem qualquer cuidado, chegando mesmo a ferir-se a si próprio.
  Este descuido acabava por colocar a serial killer em desvantagem. Para começar, aquela arma era um completo estorvo. Armas de fogo raramente funcionavam, entre outra razões porque o que não conseguia defender ou desviar Vlad não se incomodava em ser atingido; aproximar-se com alguma lâmina também parecia suicídio pois a corrente do moto-serra aparentava ser feita de diamante visto que quebrava tudo o que tocava; consequentemente, a não ser que conseguisse enfiar uma granada pela boca do homem a baixo as chances de sucesso até agora eram mínimas. Para além de se cansar muito mais depressa por só se focar em desviar.
  Felizmente tinha treinado algumas vezes com Letty. Agora que pensava no assunto fora a Informadora que sugerira que treinasse com a rapariga para melhorar a sua posição defensiva. De inicio não entendera o porquê de ser logo com ela pois seria bastante improvável precisar lutar contra alguém que usasse um moto-serra mas chegando a esta situação...
  "Poderia ser que ela... Ahahah! Claro que sim! Maldita."
  O sorriso discreto nos lábios de Raven  não escapa ao seu oponente.
  - Oi porca, quem é que disse que podias divertir-te?
  - Quase me esquecia o quanto é irritante. - Sussurra a mulher para si. - Não tenho culpa que seja tão difícil para ti matares-me. Para um ceifador até não és nada demais.
  A expressão de Vlad torna-se negra, opaca. Os olhos raiados de sangue encaravam Raven  mas ao mesmo tempo não a viam. A respiração demasiado quente e pesada formava longas cortinas de fumo que saiam da sua boca. Na sua mão o motor do moto-serra suplicava para trespassar carne.
  O nível de perigo acabara de estourar a escala.
  "Perdi uma bela oportunidade para estar calada."
  Sem aviso e nada que anunciasse os seus movimentos o homem salta sobre a serial killer.
  É por pouco que consegue desviar mas assim que vê a corrente perigosamente perto faz a primeira coisa que o seu instinto lhe ordena. Apoiando as costas numa parede para sustentar o impacto a mulher pára a arma a centímetros de si agarrando a lâmina com as duas mãos.
  A força exercida sobre si era monstruosa. Se largasse a lâmina, àquela distância, de certeza perderia o braço e no pior dos cenários a cabeça. Continuar a segurá-la por muito mais tempo também seria impossível. Se tentasse pontapeá-lo perderia o ponto de equilíbrio e acabaria cortada ao meio.
  Nenhuma das hipóteses parecia animadora e os seus braços começavam a perder a força e a ceder. Nunca estivera numa posição tão delicada. Era a segunda vez que via a morte tão perto dos seus olhos e isso trazia-lhe memórias que só queria esquecer. Recordar-se daquela altura só a deixava...
  - Furiosa. Não vou morrer aqui nem que se fodam!
  E com as memórias dos seus tempos de rua, Raven  pôs em prática o plano mais louco de sempre.
  Numa explosão de adrenalina ela cospe nos olhos de Vlad fazendo-o vacilar o tempo suficiente para que ele quebrasse a pressão que colocava sobre ela, e aproveitando para escorregar pela parede e rebolar para fora do alcance da arma.
  O sangue pingava no chão enquanto tentava recuperar o fôlego. Apesar da sua rapidez e elemento surpresa a corrente ainda raspara no ombro. O seu braço direito estava quase imobilizado.
  - Bom, bom, muito bom porca! Vais ser minha. Vou estripar-te que nem um peixe!
  "Mas será que a gasolina daquela coisa não acaba!?"
  Neste momento, sem um braço, e logo o direito, a tarefa de se defender da nova onda de ataques tornara-se ainda mais complicada. Na sua cabeça só pensava que poderia ter acabado com tudo se tivesse planeado melhor a situação anterior. Se antes as hipóteses de vitória eram mínimas agora tornavam-se perto de zero.
  "Pensa, pensa! O que fazer? Tu és a melhor da história, pensa! O que ele faria? Ele? Claro. Se alguém conseguisse vencer seria ele. Só tenho de pensar como ele, por muito que isso dê cabo do meu orgulho."
  Raven  olha em volta. Precisava de algo, uma ideia, um novo plano por muito inconsciente que fosse. Apesar da tarefa de se defender roubar-lhe toda a concentração existente, algures no seu subconsciente acende-se uma pequena luz.
  Soava a loucura dito em voz alta, seria a primeira vez que tentaria algo do género numa situação de vida ou morte mas era isso que o tornava fiável.
  Agarrando numa .09 mm que guardara para "emergências" a serial killer descarrega-a no homem à sua frente. Se antes mal acertara, desta vez com o braço esquerdo ainda fora pior o que só fez Vlad rir-se da tentativa falhada dela. Infelizmente para ele não tinha sido uma falha completa. Correndo na direção dele enquanto se desviava dos golpes Raven  esperava pelo momento ideal, momento que não tardou em aparecer.
  O som do motor a falhar alerta Vlad. Poderia ser que...
  O sorriso de Raven  confirmava as suspeitas. A anterior valsa de tiros não fora apenas uma tentativa vã e desesperada, mas sim com o objetivo de acertar o depósito de gasolina do moto-serra.
  - Vemo-nos no Inferno, porco.
  E assim um isqueiro voa até apanhar o fio de combustível que se precipitava até ao chão incendiando-o e fazendo explodir a arma junto do usuário.
  O impacto projeta a serial killer contra uma parede ouvindo-se um estalo ruidoso.
  Tosse acompanhada de sangue despertam-na:
  - A sério, quanta gasolina é que tinha aquela merda?

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