Zona Obscura - Quinquagésimo sétimo

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57 – Louco E Vingativo

  Mais um estalo. O som de ossos a partir já lhe era tão familiar que se confundia com o ruído que os rodeava.
  Queria poder dizer que aquela era uma luta equivalente mas há muito que isso deixara de ser verdade. Talvez à mais de sete anos.
  Vendo a sua expressão Erik saca de uma faca de caça e ataca cravando-a no braço usado com escudo. O sangue banhava a lâmina e pingava no chão largando um cheiro a ferro característico.
  - Não achas que estás muito nostálgica para uma luta de vida ou morte, Sam? – O homem sorri tentando rodar a faca dentro da ferida.
  Usando a mão livre a Informadora dá-lhe um murro, arrebentando-lhe o lábio, e com um pontapé no abdómen afasta-o de si.
  - Tenho de admitir que coragem nunca te faltou. – A mulher rasga um pedaço da camisola e ata ao braço ferido.

  Apesar de continuar com o sorriso estampado na cara a situação de Erik também não era favorável. Podia conseguir acertar mais golpes e ser mais rápido mas os golpes que recebia eram sem dúvidas mais fortes. Com um simples pontapé de defesa conseguira pelo menos uma costela partida e outras talvez fraturadas.
  As forças de ambos eram equivalentes mas diferentes. Enquanto um se destacava pela velocidade o outro era pela força bruta. Logo por muito rápido que ele fosse nunca causaria o mesmo dano num golpe que ela. A não ser que acertasse o sitio certo com extrema precisão e isso ela não permitiria.
  Quanto a Sam encarava tudo com uma calma mecânica. Passara por tanto que o medo já vinha como uma simples comichão. Se as coisas continuassem assim conseguiria segurá-lo e até mesmo matá-lo, o problema é que não sabia que cartas o mercenário tinha escondidas. O que sempre ensinavam no exército é que devia ter-se em conta o instinto e naquele momento o seu instinto estava a dizer-lhe que aquela luta não havia sequer começado. O que lá vinha era bem mais problemático e perigoso, para o lado dela.
  Um tiro é disparado e acerta o chão aos pés de Erik.
  - Kenji. – A Informadora olha para trás vendo o seu barman a apontar uma arma ao inimigo.
  Podia ver-se o quanto tremia. Sempre detestara armas, entrara no exército apenas para ser uma cobaia, mas se pressionar aquele gatilho fosse salvar a vida da pessoa por quem mais tinha respeito não hesitaria.
  Por outro lado o homem à sua frente não pensava assim. Mais do que vingança contra Sam, Erik queria erradicar a causa dessa vingança. O olho esquerdo ganha uma tonalidade vermelho vivido. Era como se a raiva alimentasse a intensidade da retina ficar escarlate.
  Usando a sua velocidade anormal, amplificada por todos os sentimentos negativos que acumulara nos últimos anos, ele coloca toda a força empunhando a faca e direciona o ataque a Kenji num movimento que quase ninguém consegue acompanhar.
  O tempo aparenta parar com as gotículas de sangue a flutuar entre eles perante o ar de espanto dos dois homens.
  Ao perceber as intenções do inimigo a Informadora coloca-se à frente do barman empurrando-o para trás e recebendo o golpe. Sangue banhava parte da sua cara escorrendo pelo pescoço até ser absorvido pelo tecido da camisola. O seu olho direito fora cortado e apenas o choque do seu ato causado nas reações do atacante conseguiu evitar uma morte.
  - Porquê? Porque vais tão longe por ele?! – Os gritos em forma de pergunta transmitiam o desespero de Erik.
  - Porque ele é inocente. Não é como os lixos que fazem esta cidade. Não é como vocês. Não é como eu. Ele é a única coisa que mantém a minha sanidade, que me distingue dum animal, e enquanto eu puder manter essa inocência não vou deixar que nada lhe aconteça.
  A culpa era dele. Fora ele que roubara aquela pessoa de si, a única razão porque se tinham separado. Sempre fora ele. Estes eram os pensamentos que assombravam a já perturbada mente do mercenário.
  - Se é isso que queres então vais morrer com ele. Não preciso de ninguém que se esqueceu de quem realmente é só para jogar às casinhas, Chefe Supremo.
  Ambos entram em posições de ataque. Uma luta de vida ou morte para resolver o passado. Tal e qual os velhos tempos.
_***_
12 anos atrás
  O sol acabava de nascer no horizonte testemunhando os esforços daqueles que há muito se haviam levantado e começado a treinar. Campos e campos cheios de jovens de todas as idades cercados por grades e treinando para algum dia protegerem o seu país. Ou era isso que as demais pessoas achavam.
  - Oi Sam! – Um rapaz com as roupas cobertas de sangue e um sorriso radiante nos lábios tenta chamar a atenção de uma rapariga que treinava com um homem que parecia ser um superior. – Sam!
  Com uma veia a aparecer na testa a rapariga ataca o parceiro descarregando a irritação e finalizando a luta. 
  O grupo de médicos corre para o local socorrendo o homem inconsciente.
  Após uma continência respeitosa ela encara finalmente o rapaz:
  - O que queres Ryu? Não vês que estou ocupada.
  Sem tirar o sorriso da cara ele mostra orgulhosamente uma medalha:
  - Fui condecorado Capitão!
  - Já? És mesmo um monstro Capitão Sakai Ryu.
  - Olha quem fala, Coronel Sam.

*Hierarquia Militar (patente mais baixa para a mais alta):
- Capitão
- Coronel
- General
- Marechal

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