Zasshu (Final)


40 - O início do fim

  O Inferno estava uma correria tremenda. Demónios e outros aliados corriam de um lado para o outro uns carregando armas outros vestindo armaduras. A guerra avizinhava-se.
  Lúcifer encontrava-se reunido com os Híbridos que estavam presentes, Deak, Mia, Shijima e Pain. Confirmavam os mantimentos, armas e, mais importante, os aliados que estavam dispostos a colaborar.
  - Senhor, por todos os lados que analisemos a situação continuamos em desvantagem numérica. - Afirma Deak com a face carregada.
  - Como é que isso é possível? - Lúcifer estava a ficar impaciente.
  - Não temos culpa que ao longo dos séculos só tenhas arranjado inimigos Lulu. - Reclama Mia fazendo beicinho.
  O silêncio instala-se. Por muito inconveniente que tenha sida a afirmação da nekomata, a verdade era que desde que fora expulso do Céu a sua coleção de inimigos aumentara drasticamente sendo quase o dobro dos seus aliados.
  Shijima e Shi sussurravam um para o outro. Segundo as suas especulações a única forma de virar o jogo era pensar em algum aliado que em si tivesse um considerável número de aliados dele. Shi conhecia alguém.
  - Senhor, acho que sei de uma forma. - Adianta-se o Yatagarasu quebrando o silêncio.
  O rei do Inferno encara o rapaz. Alguns momentos depois faz-lhe sinal para que prossiga.
  - Temos de pedir à Sak... à Night Eyes. Ela conseguiu muitos aliados.
  - O Raven Hell-sama tem razão. A Night Eyes-sama tem o Céu, a Bruxa Mestiça, o Mais Antigo Lobisomem, a Bruxa Renegada... - Apoia Shijima.
  - De momento a minha Afilhada não quer nada meu. Muito menos os meus pedidos.
  - Mas Senhor, esta pode ser a nossa única hipótese. - Realça Deak.
  - Ela e aquela Fantasma fugiram! Não me parece que estejam interessadas em ajudar.
  Os Híbridos baixam a cabeça. Night Eyes e Yuyuko haviam desaparecido sem deixar rasto e sem dizer a ninguém. Neste momento nada se sabia delas.
  - A Night Eyes não seria capaz de nos trair. - Soluça Tenshi abraçada a Duf.
  - Nós sabemos. É a Night afinal. - Tenta reconfortar o Vampiro.
  - Os fracos são assim. - Diz Ramon chateado.
  - Vamos lá. Não se sabe se foi mesmo isso que aconteceu. - Interrompe Deak.
  - Sa-Sa malvada! - Choraminga Mia.
  Tsubaki interrompe a conversa entrando na sala.
  - Perdão pela intromissão mas os quatro guardiões dos portões estão aqui.
  Quatro homens iguais entram na sala. Cada um era responsável por um portão do Inferno, Norte, Sul, Este e Oeste.
  - Senhor, - Falam os quatro em uníssono. - os nossos soldados avistaram tropas inimigas a rodear os territórios.
  - Então chegaram. - Lúcifer tinha uma expressão indecifrável.
  - Senhor não temos muito tempo! - Suplica Deak.
  O silêncio torturava os presentes. Não havia mais o que fazer. O fim realmente se aproximava.
  Ouve-se um estrondo das portas principais da sala a abrirem-se.
  - Desculpem a demora. Foi difícil encontrar toda esta gente.
  Night Eyes sorria orgulhosa à entrada da sala. Atrás dela encontrava-se Yuyuko, Kamiel, Mona Snake, Yami e Kuroi Black Heart, Warui, Hera, Furui, Taiki e Kira.
  Lúcifer olhava admirado para o grupo. Ver todas aquelas pessoas ali não fazia parte dos seus planos.
  - Os Mestiços estão contigo maldito. - Anuncia Mona contrafeita.
  - Os Elementares estão consigo Senhor. - Imita Taiki com uma vénia.
  - Os Lobisomens estão contigo e queremos desculpar-nos com o Submundo pelos atos do nosso mais recente Rei. - Furui apresentava-se no corpo de 25 anos.
  Kamile chega-se à frente dando um sorriso a Tsubaki.
  - Lúcifer, o Céu concordou em ajudar visto ter parte da culpa. Existe agora uma trégua até isto terminar. Dos Arcanjos só o Gabriel-sama virá.
  - É sempre ele. Sempre foi. - Um esboço de sorriso desenha-se nos lábios de Lúcifer.
  Um demónio aparece.
  - Senhor, começou!
  - Muito bem. Para a guerra!

#Imagem dos guardiões lá na página#

41 - A guerra começa

  A batalha já havia começado.
  Membros de ambos os lados lutavam pelos seus chefes e, agora também, pelas suas vidas.
  O remoinho de sons variava entre o tinir do metal a embater no metal, os gritos de dor e excitação, as explosões de magia e as ordens de comando.
  No centro do campo de batalha Luka Kyofu e Luka Osore lutavam acompanhados dos restantes membros dos grupos.
  Do lado de Kyofu estavam Andrámaca que protegia o grupo com a sua magia, Takeo e Neil discutindo quem matava mais inimigos, Ken que sem uma palavra chacinava quem o desafiava sem piedade e mais três companheiros, os restantes. Kall um assassino seguidor das artes ninja, Soul uma rapariga meio robô programada para matar e Mary uma jovem sorridente possuidora de uma mira sem falhas que testava com a sua arma de fogo.
  Com Osore estava Chad que disparava bolas de fogo incandescentes com a sua pistola, Satsujin-han que despejava carregadores de balas nos inimigos e os restantes cinco colegas. Chin a mais forte samurai do seu tempo, Mili uma camponesa amante de armas, Nagato o espadachim temido até pelos melhores senhores da espada, Roger um louco pirata com sede de sangue e Ulla a necromancer do grupo 2 prima de Andrámaca.
  Espalhados pelo campo e em menor número encontravam-se os Anjos. Apenas a sua presença já era o suficiente para alarmar os inimigos e vê-los a lutar era como assistir a um espetáculo. A beleza e elegância dos seus gestos faziam a arte de matar ser algo magnifico. Ao longe, comandando as tropas do Céu, uma figura irradiava luz. Vestindo uma túnica branca com fios dourados, a arcanjo Gabriel destacava-se de todo o cenário.
  O mais assustador era ver todos aqueles seres lutarem contra si. Alguns que antes foram amigos estavam agora em pratos opostos da balança e matavam-se uns aos outros.
  A maioria dos Lobisomens estavam com Furui pois a morte violenta do seu antigo Rei não fora bem vista aos olhos da comunidade.
  A trégua entre Lobisomens, Céu e Inferno havia sido destruída. A paz que permanecia à séculos acabara e a única forma de resolver isso era erradicar a ameaça: Clark Werewolf.
  Os Híbridos encontravam-se numa colina a observar a situação. Night Eyes agarrava o pescoço onde se situavam as cicatrizes.
  - Há algum tempo que não vemos uma destas. - Comenta Shi fitando o horizonte.
  - É verdade. Até parece nostálgico. - Sorri Night Eyes forçadamente.
  Kira aproxima-se deles:
  - Vamos dividir-nos em grupos. Eu vou com o Kamiel-sama.
  - Claro. Não te esforces. - Nos olhos de Night Eyes insinuava-se uma suplica de "não morras".
  - Não te preocupes. - Kira dá-lhe um beijo na testa espantando toda a gente. - Vai correr tudo bem.
  Vendo que já todos haviam partido para a batalha Duf chega-se à frente:
  - Night está na hora de mostrarmos do que somos capazes.
  Todos os Híbridos invocam as suas armas e sorriem para ela. O tempo dos arrependimentos já passara, agora era a altura da vingança.

#Muitas imagens novas lá na página (os membros dos grupos de Lúcifer que faltavam).#

42 - Tempestade de sangue

  Aquela guerra estendia-se à mais de três dias. Os bruxos há muito que se retiraram das filas da frente para se dedicarem aos feridos.
  A terra anteriormente castanha estava agora encarnada e os corpos jaziam mortos por todo o lado.
  Era certo que se Lúcifer quisesse, ele próprio sozinho, poderia acabar com aquela guerra. Mas por muito que fosse sua vontade fazer isso não se podia esquecer da quantidade de poder e baixas que isso ia despender. Esperava também que ao verem o seu chefe morto a maioria se rendesse. O problema era que Clark não aparecia. Parecia que ele estava à espera que se matassem uns aos outros para depois chegar lá e acabar com os que sobrassem.
  Night Eyes lutava ao lado dos seus companheiros. Por muito forte que fosse, três dias consecutivos a lutar sem dormir e a beber apenas bebidas para saciar a fome e combater o cansaço, estavam a dar cabo dela.
  Tinha a roupa coberta de sangue, seu e não só, toda estragada e suja. Os seus membros tremiam sempre que levantava Izanagi e mover-se era como levantar uma montanha. Se Clark aparecesse naquele momento seria derrotada em menos de um segundo.
  Mas não era apenas ela, os restantes Híbridos não eram nem sombras daquilo que foram no inicio, e o pior era Ramon. Curar os ferimentos dos colegas e ainda criar barreiras à volta deles estava a matá-lo. Nem as garrafas de liquido que bebia de hora em hora estavam a fazer efeito.
  Enquanto estava distraído a curar um ferimento nas costas de Duf um inimigo aproxima-se sorrateiramente. É Duf quem se apercebe da lança que ia ao encontro do peito do bruxo.
  Uma foice cruza o olhar dos dois Híbridos decapitando o inimigo. A lança e a cabeça caiem ruidosamente no chão.
  - As crianças de hoje são mesmo distraídas. Que sorte estarmos aqui não é Yami-nee?
  - Sim! E eu fiz rebolar a cabeça! Preferia ter explodido o corpo Kuroi-nee.
  - Não se pode ter tempo para tudo Yami-nee.
  - Estás bem pequeno bruxo? Pareces um farrapo.
  As Black Heart observavam-nos com olhares atentos.
  Ramon estava tão atordoado que não sabia o que dizer. Mas o que mais o incomodava era o facto delas não estarem cansadas. Podiam estar sujas mas as suas caras não demonstravam nem um terço do cansaço que ele sentia. E não eram apenas elas, Mona Snake e Warui também.
  - Kuroi-nee, parece que o pequeno bruxo não sabe o feitiço. - Yami interrompe os pensamentos de Ramon.
  - Claro que não sabe. Os bruxos de agora são uns hipócritas, nunca ensinariam esses feitiços, preferem guardá-los para eles.
  - Mas o pequeno bruxo parece estar em apuros. Já viste a cara dele? Pobrezinho!
  Mona Snake atira uma pedra à cabeça de cada um das Black Heart:
  - Porque é que não lhe ensinam o feitiço de uma vez e vêm aqui?! Deixem de ser folgadas!
  - Perdão Mona-sama! - Dizem em uníssono.
  Yami aproxima-se de Ramon, ainda apático, e sussurra-lhe algo ao ouvido.
  - Depois disto terminar, se ainda estiveres vivo, vem ter connosco. Precisas de ser treinado. - Afirma Kuroi afastando-se.
  - Serás nosso pupilo, esforça-te pequeno bruxo! - Yami sorri e afasta-se atrás da irmã.
  Ramon respira fundo tentando concentrar-se. Com todas aquelas mortes percebia agora porque nenhuma das quatro estava cansada. O feitiço consistia em retirar para si a energia vital dos que estavam a morrer. Era um feitiço seletivo que afetava apenas os que não podiam ser slavos da morte, passando o resto da sua energia para o utilizador do feitiço.
  O primeiro minuto passou e o seu cansaço diminuíra consideravelmente. Isso era bom mas também assustador pois demonstrava a quantidade de seres que estavam a morrer naquela guerra egoísta.

43 - A Mais Antiga Bruxa

  Passara quase uma semana. A violência e esplendor das lutas tornara-se agora monótona. Era como se as armas se mexem-se automaticamente, cansadas de fazer sempre o mesmo.
  O exército de Lúcifer optara por fazer dois grupos, enquanto uns lutavam os outros descansavam e curavam os seus ferimentos.
  Night Eyes e Tenshi encontravam-se agora no grupo de descanso. A Híbrida de Shinigami afiava a sua foice enquanto Sakuya observava o campo de batalha. Havia algo que a incomodava. Já se passara meia dúzia de dias mas nem sinal de Clark Werewolf.
  Drago, o pequeno dragão que Niwashi lhe dera, aproximava-se voando. Night Eyes mandara-o levar uma mensagem ao Mais Antigo Híbrido a relatar os acontecimentos.
  Um pedaço de papel cai-lhe nas mãos e o dragão pousa no seu ombro.
  - O que diz? - Pergunta Tenshi vendo Night Eyes desembrulhar o papel.
  As duas juntam-se para ler.
  Estou a fazer o meu melhor para o encontrar mas ele deve ter um feiticeiro muito poderoso na sua companhia. Lamento.
  - Nada novamente. Maldição! - Suspira Night Eyes.
  - Não te preocupes. Há bruxos dedicados a isso. Vamos encontrá-lo. - Um sorriso pouco convincente forma-se nos lábios de Tenshi. Nem ela acreditava no que dizia.
  Night Eyes olha para a colina onde Lúcifer, Tsubaki, Mia, Shijima, Deak e Taiki se encontravam a planear os ataques e defesa. Eles também não tinham expressões animadoras.
  Mais alguns dias. O exército só aguentaria mais alguns dias.
  Uma bola de magia junto com uma rajada de vento fazem parar todas as lutas.
  Num extremo do campo Furui cai ao chão coberto de sangue. O terror estampado no rosto era visível até no exército inimigo.
  Os olhos de Warui abrem-se de espanto e lágrimas começam a descer pelo seu rosto.
  Atrapalhadamente ela corre até ao corpo do Mais Antigo Lobisomem.
  - Furui, Furui, Furui!!! - O pânico estava visível nos seus olhos.
  O sangue continuava a verter da ferida, Um buraco que arrancara pele, músculo e osso.
  Balbuciando, como que em transe, a Bruxa recitava feitiços de cura em vão.
  A mão de Furui alcança a sua face tremulamente.
  - Já chega.
  Ela olhava-o incapaz de desistir.
  - Não! Já te perdi duas vezes não vou deixar que volte a acontecer.
  - Warui...
  - Não! Eu vou conseguir! Eu tenho de conseguir!
  - Por favor...
  - NÃO!!!
  As palavras continuavam a fluir dos seus lábios e o sangue escorria para o chão na mesma.
  - A tua magia não é suficientemente forte...
  Warui pára de falar. À séculos que se escondia e nunca pensara revelar-se antes de concluir a sua vingança, mas naquele momento a vida de Furui era mais importante.
  Com redobrada confiança ela leva a mão à máscara.
  Ao aperceber-se das suas intenções Furui agarra-lhe o pulso.
  - Não faças isso. Vais meter tudo a perder se quebrares o selo.
  A Bruxa afasta a mão carinhosamente ignorando o pedido.
  Uma luz forte percorre-lhe o corpo quando arranca a máscara. Um tremor de terra percorre o campo de batalha fazendo cair a maioria dos guerreiros.
  Do outro lado do campo Clark Werewolf observava triunfante na companhia de seis vultos.
  As atenções oscilavam entre ele e a Bruxa.
  A luz que cercava Warui desaparece numa explosão. O cabelo dela ondulava ao vento vermelho vivo.
  O espanto, surpresa e assombro apanham os presentes.
  Aquela Bruxa renegada misteriosa era a à muito desaparecida Mais Antiga Bruxa!

#Imagem nova de Warui na página das imagens#

44 - A verdade após séculos

Quatro séculos atrás
  Por muito que soubessem que deveriam ser inimigos mortais e nem sequer olhar um para o outro o amor não tem explicação. O Mais Antigo Lobisomem e a Mais Antiga Bruxa num romance era algo impensável.
  Haviam se conhecido por puro acaso e desde que trocaram o primeiro olhar nunca mais conseguiram esquecer-se.
  Aquele amor impossível deu frutos passado alguns anos. Warui encontrava-se grávida e era constantemente ameaçada. O Concelho de Ansiães dos Bruxos não via com bons olhos o nascimento de um Híbrido meio Bruxo e meio Lobisomem e, especialmente, filho da Mais Antiga.
  O tempo passou e o pequeno e amado bebé nasceu. Eram uma família feliz, talvez a mais feliz de toda a história do Submundo. Até aquela noite...
  Furui saíra para uma reunião com o Rei dos Lobisomens e Warui ficara sozinha em casa com o bebé.
  Enquanto preparava a água quente para dar banho ao filho uma explosão atinge a casa. Um monte de entulho cai sobre ele. Quando acorda a casa estava totalmente destruída e o bebé havia desaparecido.
  Reconhecendo os vestígios de magia Warui corre na direção que o seu feitiço indicava.
  O castelo onde ficava o Concelho de Ansiães dos Bruxos fora construído apenas pela metade e por isso parecia-se mais com um sitio abandonado.
  Os minutos que se seguiram passaram tão depressa que foi como se se tratasse de um pesadelo. Warui entra na sala principal. Em cima de uma mesa de pedra o corpo frio e inerte do pequeno bebé jazia morto. Os membros do Concelho desculpavam-se dizendo que era a melhor solução e que fora a ordem do Alto Concelho. A fúria de Warui espelhava-se nos seus olhos vermelhos como chamas. Uma espada materializa-se na sua mão e começa um banho de sangue. Cabeças cortadas, membros arrancados, sangue que chovia e escorria por todo o lado.
  Dias depois chega Furui que ao saber do sucedido partiu à procura da amada, que se encontrava desaparecida desde que assassinara todo o Concelho  de Ansiães.
  Só passados alguns anos é que eles voltam a encontrar-se.
  Furui suplica para que Warui desista da vingança, que podem voltar a tentar ter um filho noutro lugar qualquer do mundo. Naquela altura já a Bruxa usava a máscara e se tornara uma renegada.
  - Perdoa-me Furui, mas não voltes a procurar-me. A partir de hoje seremos inimigos. Enquanto o Alto Concelho dos Bruxos não for morto eu não retirarei esta máscara e não voltarei para ti. Adeus.

45 - A batalha final aproxima-se

  Os olhos da Mais Antiga Bruxa espelhavam todos os seus sentimentos. O principal era fúria que ardia como o vermelho que cobria a retina, mas lá no fundo também se reconhecia uma fagulha de excitação. A excitação da batalha, de lutar com todo o seu poder.
  O campo estava estava petrificado. Até Lúcifer estava visivelmente admirado. Na verdade quem parecia mais chocada era Mona Snake. Não conseguia acreditar que passara tantos anos debaixo do mesmo tecto que a Mais Antiga Bruxa e nunca desconfiara de nada.
  Uma barreira cobre o corpo de Furui como uma tenda. Um selo mágico aparece no chão por baixo do corpo. O sangue estanca automaticamente. Lentamente a ferida começava a sarar.
  - Fica aqui por um bocado. - Os olhos dela percorrem o caminho até ao grupo de Clark. - Tens muita coragem para aparecer aqui pirralho.
  O sorriso do Lobisomem alarga-se. Aquela guerra estava a ser mais produtiva do que ele julgara.
  A aura de Lúcifer começava a percorrer e a sufocar os guerreiros.
  - Não precisas de te apressar Rei do Inferno, eu já te vou entreter. - Ironiza Clark confiante.
  Night Eyes, que até agora nem se mexera, levanta-se como que em câmara lenta e começa a traçar caminho pelo meio dos seus aliados. Uma lança é atirada na sua direção, lança que ela desvia facilmente.
  As suas asas rompem a carne e desdobram-se. O brilho da asa branca era cristalino como um rio a receber os raios de sol da manhã, enquanto a asa negra lembrava uma magnifica noite estrelada sem lua. Era lindo e ao mesmo tempo assustador.
  Clark faz sinal e um dos vultos desaparece.
  Uma adaga é travada a milímetros do peito de Night Eyes por uma foice e um ring blade.
  Os Híbridos metem-se alinhados à frente de Sakuya.
  - Achavas mesmo que íamos deixar-te fazer o que quiseres? - Tenshi sorri rodando a foice por cima da cabeça.
  - Não te esqueças que ela não está sozinha. - As fagulhas na pistola de Shi intensificam-se.
  - Não é que eu goste disto, não me interpretes mal. Não faço isto por ti princezinha. - Ramon resmunga enquanto ajeita a corda do arco.
  - Sakuya-sama. - Yuyuko acena em confirmação do seu apoio.
  - Vai-te a ele Night! Nós tratamos deste. - Duf pisca o olho rodando o ring blade na sua mão.
  Night Eyes agradece aos companheiros.
  Os vários grupos no campo de batalha começam a mover-se para apoiar os Híbridos mas são parados pelos vultos restantes que acompanhavam Clark Werewolf.
  No meio de todos os acontecimentos a guerra concentrava-se agora focada em seis pontos diferentes. Os híbridos contra um sacerdote; o grupo de Deak contra uma guerreira demónio; os grupos de assassinato de Lúcifer contra um general demónio; Warui, Mona Snake e as Black Heart contra uma bruxa e feiticeira; Kamiel, Gabriel e Kira contra um Mestiço; e Lúcifer, Mia, Shijima e Tsubaki contra um Fúria*.
  A pergunta que ficava no ar era onde Clark conseguira reunir aqueles aliados improváveis e poderosos. Ryo, Sukaru, Red Knight, Damon Star, Law e Shiro, os seis Caçadores da Morte.
  Os grupos estavam dispostos como uma rosa dos ventos e no centro Clark Werewolf e Sakuya Night Eyes encaravam-se. Esta seria uma luta épica e apenas um sobreviveria para a relembrar.
  - Já reparaste que no final somos sempre tu e eu? - Clark invoca uma katana igual à de Night Eyes mas de lâmina branca.
  - Desta vez será diferente. Depois desta luta serei eu ou tu. - Izanagi brilhava na mão da Híbrida.
  - Se te juntares a mim não precisamos ser tão radicais.
  - Se fosse isso que quisesses não tinhas trazido os teus "súbditos".
  - Todos os Reis precisam de súbditos.
  - Não brinques comigo. O que tu esperas é que morram todos.
  Uma gargalhada ecoa da garganta do Lobisomem.
  - Eu queria mesmo que te juntasses a mim Sakuya. Não me apetecia nada ter de te estragar essa cara linda.
  - Não te preocupes. Sou eu que faço questão de te retribuir estas cicatrizes.
  - Não vais mesmo reconsiderar a minha proposta?
  - Antes arder nas chamas do Inferno.
  - Tenho pena que essa seja a tua última palavra. Não me vou segurar só por seres tu.
  - Nunca seguras. Estás a ser cínico.
  O sorriso de Clark alargasse. Gostava daquela personalidade, era isso que mais o cativava nela. Se algum dia precisasse de comer uma alma com certeza escolheria a da Afilhada de Lúcifer.
  A tensão aumentava por todo o lado. Ouve-se um grasnar de um corvo algures ali pousado. A batalha final começara.

*Divindades que atormentam as almas do Inferno
#Imagens do grupo de Clark na página.#

46 - A ajuda chega

  Lutas, sangue, mortos. Para qualquer lado que se olhasse um destes três itens estava presente.
  Em comparação até agora, que o tempo passara metaforicamente a voar, cinco minutos pareciam cinco dias. A violência das lutas aumentara consideravelmente e agora já ninguém tinha certezas de nada. A única certeza era o número de feridos a aumentar.
  Apesar dos bruxos se dedicarem apenas ao tratamento dos feridos até eles começavam a demonstrar sinais de cansaço. E o pior é que sempre que tinham oportunidade, os inimigos, infiltravam-se nas defesas e matavam um ou dois. No final começava a haver mais feridos do que os bruxos conseguiam curar.
  O número de macas aumentava e além de não conseguirem tomar conta de todos os doentes ainda se encontravam extremamente vulneráveis.
  No início existiam barreiras à volta do local mas para poupar energia tiveram de as remover e a única pessoa que protegia o sitio também se fora.
  Antes do ataque de Clark, assim que Night Eyes recebeu a mensagem de Niwashi, Hera, a ninfa guerreira, vendo as condições em que se encontrava a "equipa médica", correu ao encontro de Lúcifer para lhe comunicar a situação.
  Não ouvira a resposta que que desejava mas Lúcifer não deixava de ter razão. Tinham que se contentar com o que havia. Se ao menos houvesse lá quatro ou cinco Ninfas... Elas compensariam muito, pois em termos de medicina uma Ninfa valia por meia dúzia de bruxos.
  É então que Hera mete os olhos no pequeno dragão de Night Eyes. Não sabia muito sobre eles mas se estivesse certa uma Ninfa das grutas podia cantar para ele e fazê-lo atingir a idade adulta.
  Com uma nova ideia em mente, e já após a aparição do Lobisomem, Hera corre até Night Eyes com confiança redobrada.
  A principio a Híbrida mostra-se relutante em emprestar Drago mas após escutar a ideia da Ninfa cede e entrga-lhe o pequeno dragão.
  Já se passara duas horas.
  O barulho de um bater de asas assustador enche o campo de batalha. Ao longe uma pinta azul brilhante avistava-se no céu. À medida que a pinta ficava maior os contornos musculosos de um ser tornavam-se nítidos.
  Uma sombra cobre o terreno. O pequeno Drago era agora um dragão adulto e robusto.
  Um rugido faz estremecer o chão. 
  Nas suas costas vinham sentadas sete Ninfas.
  Os guerreiros feridos sorriem. Finalmente a sorte estava com eles.

47 - Protege os teus, Belzebu Jr.

  Os parceiros de Clark não pareciam assustados com a vantagem numérica dos inimigos. Pelo contrário, faziam questão de estar no centro dos grupos.
  Deak juntara-se ao seu grupo. No inicio fazia conta de ficar ao lado do Pai dando-lhe suporte, mas ao reconhecer a adversária do seu grupo achara melhor ajudá-las.
  Sabia o que diziam acerca dele ter formado aquele grupo. Espalhara-se todo o tipo de boatos maldosos. Que o fizera para imitar Lúcifer, para ter um harém. A verdade estava bem longe disso.
  Numa missão de reconhecimento, após a batalha do Inferno contra os Lobisomens, algo correra mal e ele acabara por cair numa emboscada. Fugindo sem rumo caíra num esconderijo secreto onde as sete raparigas se encontravam refugiadas. Cinco delas haviam sido barbaramente mutiladas na face e as outras duas envergavam marcas de chicote nas costas, tudo fruto dos vários anos que passaram como escravas de lordes e nobres demónios. Apesar disso eram óptimas lutadoras e há muito que tinham esquecido o significado de "medo". Acolhera-as e dera-lhe um tecto em troca de trabalharem para ele. Oferecera-lhes também as máscaras que atualmente usavam e como sabia o sofrimento que os nomes lhes davam dera-lhes outros: Pain, Pink, Purple, Blue, Green, Orange e Black.
  Ao recordar isso e vendo o esforço que fizera e os sentimentos que nutria por elas estarem em risco não conseguia ficar fora daquela luta.
  Sukaru sorria confiante. Na sua opinião nem se iria cansar, já estava ganho. Apenas o esplendor da sua armadura já intimidava os inimigos e a sua beleza arrebatadora fazia mortais atirarem-se de livre vontade para os poços do Inferno.
  Deak reconhecera-a de um caso de assassinato. Após largar os exércitos do Inferno tornara-se numa mercenária, trabalhava para quem pagasse mais. Era isso que deixava a maioria confusa. Porque é que alguém que só se interessa pelos ganhos se juntara a Clark?
  - Nunca pensei vir a lutar com o filho querido de Lúcifer. - Sukaru envergava um sorriso sarcástico.
  - E eu nunca pensei vir a matar alguém como tu. - A faca de Deak, Demon, materializa-se na sua mão.
  - Matar? Não está confiante demais?
  - Não é confiança, é certeza.
  Sukaru pega no machado que trazia nas costas. A lâmina era feita do mesmo material da armadura e brilhava com a mesma intensidade. Uma sede de sangue emanava da arma.
  Sem aviso prévio a guerreira ataca. O machado girava por cima da sua cabeça uivando à procura de carne para retalhar.
  As ninjas de Deak faziam os possíveis para que fosse uma luta justa mas mesmo sendo sete contra uma elas estavam obviamente em desvantagem. Os golpes de Sukaru eram tão violentos que elas só conseguiam lutar na defensiva.
  Num movimento repentino a inimiga vira-se para Black, que estava de costas, e lança-lhe o machado. Por uma fracção de segundo Orange coloca-se em frente à companheira para a proteger. A sua arma é despedaçada e o machado enterra-se no seu peito causando uma chuva de sangue.
  Aterrorizadas as colegas afastam-se de Orange inerte no chão.
  Sukaru arranca a sua arma do corpo. O sangue pingava numa pequena poça a seus pés.
  O seu sorriso alarga-se.
  - Quem é a próxima?

#Imagens do grupo de Deak lá na página# 

48 - Um lugar para estar

  Kamiel bocejava entediado. Na verdade sentia-se até um pouco invejoso. Porque é que os outros estavam a ter lutas de vida ou morte e ele tinha de se contentar com um fracote? Kira sozinho dera conta do recado.
  Law, um suposto Mestiço, encontrava-se deitado no chão todo ensanguentado e ferido.
  - Pensei que os Elfos não gostassem de conflitos. - Comenta o pai de Night Eyes.
  - E não gostamos. - O Mestiço falava com dificuldade.
  Num gesto inesperado Gabriel aproxima-se e ajoelha-se ao lado de Law. A sua roupa ofuscava só de olhar. Com um sorriso ele coloca a mão sobre a cicatriz no pulso, a mordida de Lobisomem.
  - Foi ele?
  Law acena negativamente. Não se lembrava quando fora mas lembrava-se de tudo o que sofrera após isso. Desde ser expulso do seu clã a tornar-se um "lobo solitário". Não devia qualquer lealdade a Clark mas ele fora o único que o aceitara como era e isso chegava-lhe. Claro que nunca imaginara que o fosse meter a lutar com um Arcanjo.
  - Eu não estou aqui para matar ninguém, por isso se te renderes pacificamente...
  - Matem-me!
  - Mas...
  - Sei o que vai acontecer comigo seja qual for o desfecho desta guerra, prefiro morrer agora.
  Gabriel e Kamiel entreolham-se. Não podiam matar assim alguém. Além de ferido e desarmado ainda não tinha culpa de se ter envolvido naquilo. A única solução seria Kira.
  - Não olhem para mim. - O anjo caído afasta-se. - Não quero ter de enfrentar a Night depois.
  Recai o silêncio. Neste momento encontravam-se num impasse.
  - Muito bem, - O arcanjo passa uma mão pelas feridas de Law e cura-as. - agora vais portar-te bem e ficar aqui.
  Ignorando totalmente o voto de confiança que lhe deram, o Mestiço salta tentando atacar Gabriel. Para sua surpresa o homem nem se mexeu. Não atacava mas também não se defendia.
  A sua investida é repelida por Kamiel, que com um bater de asas se coloca entre os dois e afasta o inimigo com um pontapé no estômago.
  - Estás assim tão desesperado para morrer? - Kamiel preparava-se para contra-atacar.
  Sem resposta os dois começam a lutar. Law estava desesperado e Kamiel tentava evitar a todo o custo uma morte desnecessária.
  Longe dali, noutro foco da batalha, Ryo, o sacerdote que lutava com os Híbridos, lança um punhal envolvido em energia a Law. Parecia que a politica de Clark era eliminar aqueles que não podiam vencer.
  Num segundo entre a trajectória da arma e o acertar no alvo Kira carboniza o projéctil com um raio. A cinza é levada pelo vento perante o olhar dos presentes.
  Law cai de joelhos rendido. A última chance que tinha de morrer acabara de ser desperdiçada por Kira. Agora teria de enfrentar a ira de Clark. No mínimo seria torturado até ficar irreconhecível.
  Um pouco ténue uma voz faz-se ouvir na mente do Mestiço. No inicio ele ignora supondo ser efeito do stress mas apercebendo-se da persistência da voz decide tentar dar-lhe atenção. Minutos depois consegue discernir a mensagem.
  "Não desistas. Não desistas. Eu ajudo-te."
  Law olha em volta. A sua atenção prende-se em Night Eyes que lhe sorria encorajadoramente antes de aparar um novo ataque de Clark e voltar à sua luta com ele.
  Será que Law finalmente encontrara o seu lugar?

49 - Impossível vencer?

  A respiração ofegante e o suor que escorria pelas suas faces demonstrava em parte a violência da luta. O resto verificava-se pelo sangue que se espalhava incondicionalmente pelo chão debaixo dos seus pés.
  Temos de admitir que quando se fala de uma luta de dezasseis contra um a única coisa que se pensa é em desvantagem. Mas e se quem estiver a perder forem os dezasseis?
  Luka Osore e Luka Kyofu faziam os possíveis para que os grupos não ficassem desanimados mas quando eles estavam todos cansados e feridos e o inimigo apenas com meia dúzia de arranhões na armadura era um pouco difícil manter a confiança.
  Desde ataques individuais a ataques conjuntos nada parecia funcionar. Como se aquele homem na frente deles conseguisse ler as suas mentes e saber o que eles fariam a todo o momento. Isso realmente era assustador. Ver os tão temidos grupos de assassinato de Lúcifer à mercê de uma única pessoa.
  Red Knight fora, num passado bem longínquo, um dos principais e, talvez, mais importantes soldados do exército do submundo. Perdera-se a conta do número de inimigos que matara e também de aliados. Sem saber porquê, de um momento para o outro, Red Knight matara todos os soldados do seu esquadrão e fugira. Houve quem dissesse que ele havia sido apanhado por uma maldição de uma bruxa mas a verdade perdeu-se junto com ele, ou assim se pensava. Ver aquele homem podia ser traumático para muita gente mas lutar com ele com certeza deixaria marcas que nunca mais seriam apagadas.
  Por isso dizer que naquele momento estavam com medo era ser irónico, eles estavam aterrorizados e apenas o seu orgulho como guerreiros os impedia de sairem dali a correr e irem esconder-se no buraco mais profundo do Inferno.
  Fosse qual fosse o resultado daquela batalha eles lutariam até ao fim e para vencer.
  É Soul que relembra isso aos companheiros atacando sem rodeios Red Knight. Um ataque surpresa e imprevisível que poderia significar uma reviravolta na maneira como aquela luta estava a acontecer.
  Faltavam poucos centímetros para acertar. Seria um golpe direto no peito, impossível de desviar àquela distância e naquela velocidade.
  Com uma rapidez inimaginável Red Knight desvia-se e acerta Soul nas costas com os espinhos dos braçais da armadura, espinhos que ao enterrarem-se na carne crescem trespassando-a como se fosse uma folha.
  O sangue pingava e faiscas percorriam o seu corpo.
  - REPARAÇÃO IMPOSSÍVEL. AUTODESTRUIÇÃO ACEITE. 3, 2, 1...
  Uma explosão gigantesca ocorre no meio deles formando uma cratera no lugar onde anteriormente estava o corpo de Soul.
  Graças a Andrámaca e Ulla, que criaram uma barreira protectora em volta deles, não houve mais baixas. Quanto a Red Knight fora apanhado desprevenido e por isso levara em cheio com a explosão.
  - Ninguém sobreviveria a uma explosão daquelas. - Comenta Mili do grupo 2. 
  - Bem feito velhote! - Sorri Takeo satisfeita.
  Um barulho faz-se ouvir do meio dos escombros da cratera. Olham todos nessa direção relutantes.
  - Soul? - A voz de Chin soa nervosa.
  Um espinho sai voando da cratera e acerta a samurai no meio dos olhos matando-a no mesmo instante.
  Os olhares chocados dos companheiros dividiam-se entre o corpo inerte no chão e a cratera. Uma nuvem de pó forma-se com o mexer das pedras. Na cratera, por debaixo do entulho, Red Knight ergue-se. Ferido mas vivo, ele encara o grupo.
  Chegando-se a Kyofu, Mary agarra-lhe no braço a tremer.
  - Como é que vamos vencer aquele monstro?

50 - Bruxa possuída

  O ferimento de Furui fechava lentamente. Feridas causadas por magia negra eram muito difíceis de se curar com outras magias. Apesar de doloroso o Lobisomem já conseguia sentar-se. A barreira à sua volta era tão poderosa que acreditava que nem um anjo a conseguisse quebrar.
  Olhava para o amor da sua vida com atenção. Ela acabara de desistir da vingança que alimentava a sua existência por ele. Isso nada nem ninguém lhes poderia tirar.
  - Os teus batimentos cardíacos estão acelerados. Não me digas que estás a ficar excitado? Seu masoquista. - Warui olha-o por cima do ombro com um sorriso divertido.
  - Devidas repensar essa tua personalidade.
  A cauda de Mona Snake chicoteia o chão. Enquanto o casal trocava olhares apaixonados a bruxa inimiga já começara a entoar cânticos e criar feitiços.
  - Não é que eu queira interromper mas estamos com um problema aqui.
  Warui dá um ultimo sorriso a Furui e volta a atenção para o que estava à sua frente.
  À volta da bruxa encontravam-se dúzias de círculos mágicos que atacavam tudo o que se mexia. As Black Heart defendiam-se e criavam contra-feitiços para anular os círculos. Mona Snake criava barreiras à volta delas para que nenhum ataque perdido acertasse alguém do lado de fora.
  Com um estalar de dedos Warui estilhaça os círculos mágicos.
  O espanto é visível tanto em aliadas como em inimiga.
  - Nunca esperei defrontar a Mais Antiga Bruxa. - A inimiga criava já novos feitiços.
  Damon Star era uma feiticeira e bruxa de uma tribo muito conhecida e temida de alguns lugares do submundo. Os seus membros, apesar de um grande poder mágico, não nasciam como bruxos. As suas técnicas eram apuradas e moldadas desde pequenos para isso. Por essa razão é que eles se tornavam tão perigosos.
  A luta passava-se sem grandes novidades. Damon Star atacava, Mona Snake e as Black Heart defendiam e o que não conseguiam controlar Warui destruía. A bruxa inimiga estava a ficar frustrada com a situação e as adversárias reparavam nisso.
  - Sabes o que significa "Mais Antigo"? - Warui cruza os braços. - Eu sei tudo o que há para saber sobre magia e mais alguma coisa. Nada do que faças vai funcionar.
  - Por saberes o que faço não significa que o possas parar.
  A expressão de Damon Star muda. A frustração desaparece e uma bola de cristal ergue-se do chão irradiando uma luz baça.
  - Kuroi-nee aquilo...
  - Tens razão Yami-nee.
  Um estalido ouve-se com o partir da bola. Uma sombra negra e viscosa escorre pelas rachas e envolve o corpo da bruxa.
  - Chegar tão longe por nada. Deixar-se possuir é uma vergonha para uma bruxa. - A bruxa Mestiça olhava com repulsa.
  Num segundo uma seta de luz é lançada. Warui cria uma barreira, barreira essa que é destruída deixando a seta passar e enterrar-se na cauda de Mona Snake.
  - Ups! Culpa minha. - Desculpa-se a Mais Antiga.
  - Deixa lá. Não te preocupes. - Sorri Mona sarcasticamente.
  - Mas tenho de admitir, conseguir quebrar a minha barreira com um feitiço tão ordinário. Nem quero imaginar que coisa nojenta estaria naquela bola.
  - Vais finalmente parar de brincar?
  - Brincar? Eu só estou à espera.
  - À espera de quê?
  - Que me calhe o bolinho da sorte.

51 - Luz das trevas

  Dizer que a situação estava complicada era ser simpático. Não podia ter calhado pior inimigo aos Híbridos. Só de ver o que ele fizera ao Mais Antigo Lobisomem deixava bem explicito que tipo de inimigo eles tinham pela frente. Já não bastava ser um sacerdote com poder suficiente para os exorcizar ainda tinha de usar magia negra. O pior é que parecia que ele estava de olho em Ramon.
  Foi no meio de um confronto com Duf que, de repente, o sacerdote se virou para a luta dos anjos e atirou um punhal amaldiçoado ao seu companheiro. O choque abala os Híbridos. Matar o próprio colega porque ele estava a perder? 
  Shi aproveita aquele pequeno momento de distração e dispara contra Ryo acertando-lhe num braço.
  O tempo continuava a correr e não houve mais nenhum ataque significativo.
  O cansaço começava a levar a melhor para o lado dos Híbridos. O primeiro a sentir isso é Duf. O seu corpo até já decrescera para o tamanho de uma criança de oito anos. Nem Ramon estava a conseguir atrasar os efeitos da falta de sangue.
  Enquanto Yuyuko e Shi duelavam contra Ryo, Tenshi afasta-se para perto do vampiro.
  - Estás bem Duf?
  - Eu aguento-me, não te preocupes.
  - Não sejas parvo, tu não vais aguentar nada! - Tenshi estaca a foice no chão e agarra o pequeno Duf ao colo. - Anda, bebe o meu sangue.
  - Mas...
  - Sem mas! Bebe já!
  Mesmo contrafeito, Duf cede à ordem da shinigami. Com cuidado para não a magoar ele crava os dentes no seu pescoço. A cada gole de sangue o seu corpo crescia até que no final já era ele que a segurava.
  Nestes momentos nunca se percebe bem o que realmente acontece. É tudo tão rápido e irracional que quase não dá para acreditar.
  Uma luz ofuscante passa-lhes pelos olhos e fixa-se no braço direito de Tenshi.
  A luz vai se apagando e entrando para o corpo da rapariga à medida que as partes afetadas se desintegravam como cinza.
  Os Híbridos não sabiam se deviam ficar chocados com o que estava a acontecer à companheira ou com a atitude que ela tomara.
  Desenterrando a foice com a mão não afetada num único golpe ela corta fora o braço direito. O sangue esguichava do ombro onde à segundos atrás estava agarrado o braço.
  É Ramon o primeiro a ter uma reação criando uma barreira para parar o sangramento. Os restantes afastam-se do sacerdote.
  - Tenshi... - Shi começa a falar.
  - Não se preocupem, é só um braço.
  - Tens a certeza? - Yuyuko encarava a shinigami com um olhar sério.
  - O que queres dizer?
  - A fantasminha tem razão. Podes ter parado a propagação mas não se sabe o que mais afetou. - Explica Ramon.
  Num gesto repentino Duf coloca as mãos nos ombros de Tenshi fazendo-a encará-lo.
  - Conta-nos se estiver mais alguma coisa errada.
  Ela desvia o olhar para o chão:
  - Talvez o meu olho direito não esteja muito bem.
  - Como assim? - Pressiona Yuyuko.
  - Não consigo ver...
  A conversa é interrompida por uma bola de energia lançada por Ryo. É Shi que a destrói com um tiro.
  - É melhor afastares-te da luta Tenshi. - Diz o yatagarasu preparando-se para um novo ataque.
  - Não! Eu vou lutar até ao fim!
  - Temos de descobrir a fonte de poder dele. - Avisa Yuyuko olhando o sacerdote.
  - O que achas que estou a fazer desde o inicio? - Sorri Ramon orgulhoso mostrando um circulo mágico desenhado na sua mão.
  - Este é o nosso bruxo. - Sorri também Duf.
  E com confiança redobrada os Híbridos preparam-se para enfrentar de novo Ryo.

52 - Raiva infernal

  Lutar contra um Fúria podia ter as suas vantagens, afinal basicamente fora Lúcifer que os criara, o problema é que neste caso especifico isso tornava-se uma armadilha. Sim, Shino era um Fúria mas as supostas fraquezas que os outros tinham ele eliminara-as de uma forma perigosa e drástica o que só o tornava mais poderoso.
  Lúcifer e Taiki continuavam a elaborar o plano de batalha consoante as novas informações acerca dos outros pontos do campo que eram trazidas por pássaros a mando da Silfide. Mia, Tsubaki e Shijima faziam os possíveis para atrasar o avanço do Fúria até à tenda onde se encontrava o Rei do Inferno.
  Taiki conversava com o último pássaro que chegara. A sua expressão não era nada animadora.
  - Senhor, as coisas estão a complicar-se.
  - Se te referes ao facto de ver os corpos dos meus filhos espalhados por todo o lado não preciso de um pássaro para me dizer.
  - A única luta controlada é a que está a cargo dos anjos. E lamento dizer mas as restantes para além da da Mais Antiga Bruxa não estão em bom caminho.
  Um suspiro com várias emoções embutidas é soltado por Lúcifer. É verdade que não esperava ganhar aquela guerra sem baixas mas também não lhe passara pela cabeça que Clark Werewolf conseguisse encontrar aquele tipo de monstros para seus aliados. O pior é que agora já não sabia sequer se podia ganhar. E olhando para o relatório geral da situação só havia um inimigo que o preocupava, Shino.
  Mesmo que morressem todos Lúcifer acreditava que conseguiriam arranjar uma solução para vencer os aliados do Lobisomem mas Shino era diferente. Ele era o único que tinha mesmo algo contra o Inferno e em especial contra si.
  - Senhor, está a ouvir-me? - Taiki interrompe os pensamentos do senhor do Inferno.
  - Que foi?
  - Eles estão a aproximar-se.
  Lúcifer olha para o sitio onde o Fúria lutava com as suas aliadas. Faltavam poucos metros para chegarem ao monte onde se encontrava com a Elementar.
  A luta era feroz e ritmada como se fosse uma dança e as três mulheres bailassem à vez.
  - Não tenho nada contra si Hell Flower-dono mas se continuar a tentar impedir-me não terei misericórdia. - Shino encara Tsubaki enquanto pára um ataque de Shijima.
  - Estás mesmo disposto a levar isso para frente?
  - Só vim pagar de volta o que o seu precioso mestre me deu.
  - E apenas para te vingares amaldiçoaste-te a ti mesmo?
  - Por vezes sacrifícios são necessários para alcançar os nossos objetivos.
  Mia pára a conversa aparecendo silenciosa por trás do inimigo e cortando-lhe o braço amaldiçoado com as garras.
  - E o que farás sem esse sacrifício? - Sorri a Nekomata limpando o sangue negro das unhas.
  O olho azul de Shino brilha. O grito de Tsubaki não chega a tempo de avisar a pequena do perigo e mesmo Shijima não consegue evitar o ataque.
  O braço amputado do Fúria volta ao lugar e num gesto rápido e imprevisto crava-se na barriga de Mia. O sangue que cobria aquele braço negro é absorvido alimentando a maldição. Mia cai inerte no chão.
  Não foi preciso dizerem-lhe. O simples aroma do ar mudara. Mais uma das suas filhas morrera e desta vez uma a qual a morte não poderia ser perdoada. Os olhos de Lúcifer faiscavam de ódio e nem no seu pior dia de existência sentira aquele sentimento tão forte.
  - Taiki vai buscar a Lola.
  A Elementar obedece desaparecendo com o vento.
  A voz do rei podia parecer calma mas por cada silaba proferida o seu poder aumentava.
  O seu cabelo ondulava como se uma brisa passasse constantemente por ele. Estava furioso e não tinha problemas em mostrar. A cada passo seu o chão cedia debaixo dos seus pés.
  - Levem o corpo dela daqui.
  Tsubaki e Shijima tentam argumentar mas são impedidas com um olhar.
  - Devidas ter-te conformado com o facto de simplesmente continuares vivo. - Lúcifer encara Shino.
  - Não sou teu lacaio para me conformar com tão pouco.
  - Que pena para ti porque desta vez vou garantir que nem para alimentar o fogo do Inferno o teu corpo vai servir.

53 - Round 1: O Inferno vence

  O final estava próximo. Mesmo que justificasse toda aquela chacina era impossível não existir sentimentos de culpa, especialmente quando o corpo aos teus pés era do teu amigo.
  No grupo de Deak as raparigas lutavam com as lágrimas a escorrer pelas faces. Além de Orange, Black e Purple também já haviam sucumbido perante o machado de Sukaru. O filho de Lúcifer sentia-se horrível por não conseguir proteger as suas tão leais companheiras. Se pudesse daria tudo para trocar de lugar com elas.
  Enquanto Pain e Pink defrontavam a guerreira, Green chega-se para Deak e Blue.
  - Senhor, não vamos aguentar muito mais. - A rapariga de roupa verde respirava com dificuldade.
  - Eu sei. - Belzebu Jr. suspira desanimado.
  - Se ao menos conseguíssemos livrar-nos do machado e da armadura...
  Blue encara-os com uma expressão iluminada:
  - Já sei como podemos ver-nos livres da armadura!
  Uma pequena conversa trava-se entre os três. Um novo plano estava a ser formulado.
  - É uma ótima ideia Blue-chan. - Elogia Deak fazendo corar a jovem.. - Mas e o machado?
  Green coloca uma mão sobre o ombro do seu mestre. O homem olha-a. Por baixo da máscara ela sorria.
  - Eu resolvo isso.
  - Green...
  - Não se preocupe Deak-sama. Eu vou distraí-la, contem-lhes.
  Não demora muito para que as outras duas raparigas tenham conhecimento do plano. E também que entendam o que Green pretende fazer.
  É durante um ataque de Sukaru que a rapariga se coloca no trajeto do machado sendo acertada em cheio. A guerreira sorri triunfante, sorriso que se esbate quando se apercebe do que a ninja pretende.
  Green grita por Pink que compreende a deixa e lança a sua arma à amiga amarrando o machado ao corpo dela impedindo Sukaru de o retirar.
  Aproveitando a distração momentânea, Blue dispara meia dúzia de setas rebentando as fitas que conectam a armadura e Pain aparece por trás cortando o resto com a sua espada.
  Sem machado e praticamente nua Sukaru nada podia fazer. Quando se lembra de realizar um feitiço já é tarde demais. Deak, que já invocara a sua arma dividindo-a em duas facas, corre para a mulher e crava uma faca no peito dela. Girando sobre si espeta outra no pescoço degolando-a.
  - Malditos... - Sukaru sussurra com o sangue a jorrar cobrindo Deak de vermelho.
  A luta estava terminada.
  Grupo de Deak - Sobreviventes: 4 ... Mortos: 4
***
  Os grupos de assassinato de Lúcifer estavam praticamente dizimados. Cansados, feridos e reduzidos a metade. Após a morte de Soul e Chin a situação só piorara. Primeiro Mary, passando por Mili, Kall e Roger e por fim Neil e Ulla. Andrámaca, a mais sensível dos restantes, ainda não desistira apenas pelo desejo de vingar os companheiros.
  Usando a sua magia a necromancer protegia os colegas e tentava descobrir o ponto fraco de Red Knight.
  Luka Kyofu aproxima-se da subordinada aproveitando para descansar:
  - Conseguiste alguma coisa?
  - Lamento, mas por muito desencorajador que possa ser ele não tem pontos fracos.
  - Isso não é possível!
  - O poder mágico dele é impressionante. É como se fosse ilimitado.
  - Ou seja, temos de destruir esse poder. - Interrompe Nagato chegando-se a eles.
  - Mas como espertinhos? - Pergunta Takeo. Naquele meio tempo já todos se haviam juntado.
  O silêncio recai entre eles. Red Knight olhava-os desinteressado.
  - Selando o poder dele. - Afirma Chad.
  - É impossível selar aquele poder monstruoso com a minha magia. - Andrámaca fala desesperada.
  - Não podemos desistir agora! - Exclama Luka Osore tentando dar ânimo aos restantes.
  Ken, que ouvia a conversa afastado do sitio onde os outros estavam, chega.se ao pé da necromancer e toca-lhe no ombro. Ao ter a atenção que pretendia aponta para Satsujin-han. Todos olham confusos.
  - Tatuagens.
  Finalmente eles compreendem o que Ken tentava dizer. Satsujin-han mantinha o seu poder demoníaco selado pelas tatuagens que Night Eyes lhe espalhara pelo corpo.
  A General da Morte não parecia muito segura:
  - Eu nunca removi isto tudo.
  Ignorando totalmente a afirmação da colega os grupos já planeavam o ataque. Red Knight também já se apercebera que eles combinavam alguma coisa.
  Enquanto ambos os Luka's distraiam o inimigo, Andrámaca aproxima-se de Satsujin-han e remove-lhe as tatuagens. Assim que a última flor é removida Chad cria uma barreira de fogo à volta da mulher para evitar que o seu poder vaze.
  Nagato e Ken entregam as suas katanas à necromancer que dispõe as tatuagens nas lâminas.
  Takeo chega-se a Red Knight. Apesar de discreta é percebida e por milímetros consegue desviar do espigão atirado na sua direção.
  - Desta não escapas cabrão! - Grita a rapariga atirando uma corrente e amarrando o corpo do cavaleiro.
  Sem dar tempo de reação ao inimigo Ken e Nagato atacam enterrando as lâminas no homem. As tatuagens são automaticamente sugadas para o corpo.
  A necromancer grita para avisar que funcionara e o poder estava a decair. Sem precisar de mais confirmações Kyofu atira a sua foice e Osore finaliza com um pontapé transformando a arma numa guilhotina. O corpo de Red Knight cai dividido em dois formando um lago de sangue à sua volta.
  Grupos de assassinato de Lúcifer - Sobreviventes: 8 ... Mortos: 8
***
  A batalha entre as bruxas estava controlada. Mesmo com Damon Star mais forte não se podia dizer que estavam a ter problemas.
  Warui bocejava entediada. Até lutar contra uma mosca seria mais interessante. Furui estava quase curado e até já se metia em pé.
  - Não vais ajudá-las?
  - Elas não precisam.
  - Peço desculpa por discordar mas se te pudesse livrar daquela coisa viscosa ajudavas muito. - Interrompe Mona Snake olhando a Mais Antiga desaprovadoramente.
  Warui vai até à Mestiça contrariada. Furui sorria para ela. Parecia uma criança que não queria ir para a escola.
  - Mona, o teu poder é melhor para enfraquecer aquilo.
  - Sabes perfeitamente que não posso manter essa forma por mais de dez segundos.
  - É o suficiente. Mas não deixa de ser vergonhoso.
  - Olha quem fala.
  - Tenta não matar as tuas subordinadas.
  É com um olhar furioso que Mona Snake começa a desenhar no chão com a ponta da cauda. Ao ver a luz formar-se à volta da bruxa as Black Heart afastam-se da inimiga percebendo o que se estava a passar.
  De um momento para o outro no lugar da bruxa com uma cauda encontrava-se um basilisco, a segunda forma de Mona Snake.
  A cobra gigante vira-se para Damon Star e abre os olhos. No mesmo instante tudo o que se encontra no seu campo de visão começa a secar, e a sombra negra que cobria o corpo da bruxa inimiga não é exceção.
  Antes que aquele ser conseguisse regenerar, Warui espeta-lhe a sua lança. Um circulo mágico, cobrindo toda a extensão da mancha, aparece e dele saem raios que vão destruindo a sombra.
  Com um sorriso as Black Heart balançam as foices por cima da cabeça e como se se tratasse de uma tesoura cruzam as lâminas no pescoço de Damon Star decapitando-a.
  - A cabeça rebolou! - Grita Yami histericamente.
  - Muito bem Yami-nee. - Elogia Kuroi.
  - Viste Mona, tudo resolvido. - Sorri Warui para a Mestiça que acabara de se recompor.
  - É o que parece.
  Grupo Mona Snake, Black Heart e Warui. - Sobreviventes: 4 ... Mortos: 0
***
  Por mútuo acordo os Híbridos decidiram deixar Ramon de fora da luta para se concentrar na sua missão de descobrir a fonte de poder do sacerdote, e Tenshi, que estava ferida, a cuidar da segurança dele. A shinigami já atara uma fita de tecido do seu vestido no olho direito para o proteger.
  O tempo ia passando e a tensão aumentando. O bruxo transpirava. Para um sacerdote até que o homem estava bem protegido.
  Tenshi estava para abrir a boca para tentar relaxar Ramon quando ele de repente solta uma gargalhada. A rapariga fica a olhar para ele espantada.
  - Era tão óbvio que até me sinto inútil.
  - Descobriste? - A shinigami salta para ao pé dele animada.
  - Está na hora de atacarmos!
  Os Híbridos juntam-se.
  - O poder dele vem do dragão.
  Todos olham para o animal que se enroscava manhosamente no pescoço de Ryo.
  - Como é que vamos pará-lo? - Pergunta Duf.
  - Tu vais. - Yuyuko mostra um pequeno frasco com um líquido desconhecido no interior.
  - O que é isso? - Shi observa o frasco com atenção.
  - Um veneno capaz de fazer o Cerberus mais doce que uma ovelha.
  Duf engole em seco:
  - E o que é que eu vou fazer com isso?
  - Acho que já sabes. Tenta não engolir.
  Contrafeito o vampiro transforma-se em morcego e leva o frasco à boca. Só o sabor já era horrível nem queria imaginar engolir aquilo.
  Voando velozmente Duf crava os dentes no pescoço do sacerdote fazendo o veneno entrar no corpo do homem.
  Não foi preciso muito tempo para o líquido começar a fazer efeito. Tenshi e Yuyuko correm lado a lado e cortam cada uma um braço de Ryo impossibilitando-o de fazer magia.
  Com o arco, Ramon dispara uma seta encantada ao dragão furando-lhe a cabeça e matando-o de imediato.
  Ryo enfraquecido, ferido e perdendo os poderes começa a vacilar. É shi que acaba com o seu sofrimento acertando dois tiros na cabeça do sacerdote.
  Os Híbridos sorriem vencedores.
  - Oi! - Duf chama deitado no chão. - Não há um antídoto? É que acho que estou a morrer. A minha língua está verde!
  A gargalhada do grupo ecoa pelo campo.
  Híbridos - Sobreviventes: 5 ... Mortos: 0
***
  Lúcifer e Shino encaravam-se. Se havia um sitio do campo de batalha onde a aura podia ser mortal era ali.
  - Só sobraste tu. Tens a certeza que não queres fugir enquanto há tempo? - Provoca Lúcifer.
  - Não me compares com aqueles lixos.
  - É por não te comparar com eles que estou a avisar-te. Se eles são lixo tu não passas de um inseto insignificante.
  A veia do pescoço do Fúria incha com a raiva. Apenas olhar para a cara do Rei já o fazia perder a cabeça.
  Com uma brisa fresca Lola aparece elegantemente ao lado do seu mestre.
  Afastadas dali Shijima, Tsubaki e Taiki, que acabara de regressar, preparavam-se para criar uma barreira à volta do campo de luta de Lúcifer. Afinal não era nada saudável que ele se entusiasmasse e destruísse metade do submundo.
  Ao aperceber-se disso e reparando que as mulheres estavam à beira do colapso, o Arcanjo Gabriel vai até elas e ajuda-as a manter a barreira.
  O braço amaldiçoado de Shino transforma-se numa lâmina e o Fúria parte para o ataque.
  Com uma palavra de Lúcifer, Lola abre a boca e mete a língua de fora. Desenhado na língua estava um símbolo que começa a brilhar. Um circulo mágico nasce em frente à rapariga e dele sai uma espada negra e larga.
  Lúcifer pega nela e defende o golpe de Shino que olhava a arma boquiaberto:
  - Essa é a Lâmina da Rainha Demónio?
  - Quem sabe.
  - É um dos tesouros perdidos do Submundo!
  - Afinal não está assim tão perdida.
  A luta continua. Aquela era uma batalha que não se via todos os dias. Lúcifer era visivelmente superior e não estava a usar nem metade do seu poder total.
  Shino frustrado continuava a alimentar a maldição afim de ganhar mais poder.
  - Nem com mil maldições conseguirás vencer-me.
  Lúcifer desaparece para aparecer na cara do Fúria e cravar-lhe uma mão no peito espremendo o núcleo da maldição perante o uivo de dor de Shino.
  Desenterrando a mão da carne negra, o Rei do Inferno dá um murro ao seu adversário fazendo-o voar alguns metros e caindo ruidosamente ao chão.
  Shino gemia e contorcia-se agarrado ao braço que era consumido totalmente pelo poder da maldição que tentava alimentar-se para não desaparecer pelo dano que lhe causaram.
  Lúcifer aproxima-se. O chão tremia com os seus passos.
  - És o que de mais podre o submundo pode ter. Devias ficar agradecido por contribuíres para a purificação do universo.
  - Não vais livrar-te assim tão fácil. Há milhares de seres dispostos a destruir-te!
  - Eles que venham. Vão acabar todos como tu.
  Shino dá uma gargalhada:
  - Eu amaldiçoo-te Lúcifer!
  E com esta declaração a Lâmina da Rainha Demónio desce sobre o corpo do Fúria prendendo-o ao chão. Um som abafado sai da garganta de Shino. Com um estalar de dedos a lâmina enterra-se em todo o comprimento acabando com mais uma vida.
  - Mete-te na fila.
  A barreira é desfeita e Lola vai ao encontro do seu amo.
  - Lola trata da espada. Estiveste bem.
  Com uma vénia a mulher retira-se.
  Finalmente as batalhas estavam terminadas e o Inferno era o vitorioso. Agora faltava apenas a luta de Night Eyes.
  Grupo de Lúcifer - Sobreviventes: 4 ... Mortos: 1

Lâmina da Rainha Demónio

54 - Empate do destino

  As ninfas trabalhavam a dobrar. Agora que as lutas principais estavam terminadas chegava a hora de tratar dos feridos, especialmente Tenshi que era o caso mais grave. Enquanto isso, e visto que as ninfas davam conta do recado, os bruxos dedicavam-se à recuperação dos corpos. Trabalho difícil e nojento pois havia deles que estavam tão maltratados que nem dava para perceber quem anteriormente haviam sido.
  Ao longe o som do colidir de metal fazia-se ouvir. Os mais curiosos, e corajosos, aproximavam-se para assistir à única batalha que ainda se travava.
  Night Eyes e Clark Werewolf estavam empatados. O que no inicio era roupa agora não passava de farrapos. O sangue pingava dos vários cortes que envergavam. Ofegavam ruidosamente e parecia que lutavam à séculos. Mas apesar de todo o cansaço não deixavam de estar em pé de igualdade e a luta continuava a ter a ferocidade e beleza que tinha no inicio.
  - Tens a certeza que queres continuar? Pareces cansada. - Provoca Clark com um sorriso.
  - Achas mesmo que será assim tão fácil? - Night Eyes limpa um fia de sangue que escorria da sua face.
  Começa uma nova ronda de ataques. O Lobisomem gira a katana numa dança de movimentos ensaiada. O ar à volta deles vibra e a paisagem muda drasticamente. De um momento para o outro deixam de estar num campo vazio para se encontrarem numa floresta.
  Os espectadores por perto assustam-se com a mudança repentina e afastam-se mais.
  A ilusão é quebrada. Apesar de tudo continuava a não haver vantagem para nenhum dos dois.
  Mais um conjunto de ataques, mais um empate. A continuar assim aquela luta estenderia-se pela eternidade. Tréguas estava fora de questão. Mas nem eles sabiam quanto mais tempo iriam aguentar, começava a ser uma luta de resistência.
  Novo ataque. Aquilo precisava ser resolvido o mais rápido possível.
  Como se lessem os pensamentos um do outro, os dois rivais, correm para a estocada final. Àquela velocidade e tendo os dois a mesma ideia nada os faria desviar. É com as katanas ao nível da cintura que colidem, ferindo-se mutuamente. Ambos tinham agora uma arma presa no abdómen.
  Clark solta uma gargalhada forçada:
  - Estamos empatados na mesma.
  Por outro lado Night Eyes estava bem séria. Não queria matá-lo mas não o podia deixar impune.
  Uma aura diferente saía da lâmina da espada. Talvez eles não estivessem assim tão empatados.
  - Pela animus quam is est ut habitum reverto te iam unus vestri is vultus. Izanagi!*
  A arma desaparece como se se tivesse refugiado no corpo onde estava cravada. Clark arregala os olhos em espanto e choque e cai de costas no chão. O seu corpo estava dormente e fraco e parecia que tinha formigas a passearem-se pelas suas veias. Da ferida no abdómen pequenas borboletas começam a traçar caminho para o exterior. Eram negras com as pontas das asas laranja como se estivessem a arder.
  Era um espetáculo lindo e ao mesmo tempo bizarro ver todos aqueles seres saírem do abdómen de Clark e esvoaçarem à volta dele.
  Night Eyes arranca a katana do Lobisomem da sua carne deixando para trás um pequeno rio de sangue que escorria do ferimento e ajoelha-se no chão.
  A última borboleta despede-se do corpo de Clark recebendo um gemido por parte do mesmo.
  - Então esta é a verdadeira forma da tua katana. - Fala Clark num sussurro.
  A Híbrida acena afirmativamente.
  - Armas do Inferno são assustadoras. - Ele mantinha o tom de voz divertido mas nem sequer sentia o corpo. - E agora? Vais matar-me?
  Night Eyes encara-o surpresa como se aquela ideia fosse totalmente sem sentido:
  - Não.
  - O teu Padrinho não vai gostar disso.
  - Ele vai andar demasiado ocupado para se lembrar.
  Um sorriso suave nasce nos lábios de Clark Werewolf:
  - Admite, tu amas-me, Sakuya.
  Night Eyes retribui o sorriso e deixa-se cair ao lado dele:
  - É, quem sabe.

*Pela alma que detenho devolvo-te agora a tua forma. Izanagi!

55 - O principio de um novo fim

  Quando Night Eyes acorda já se passara quase uma semana desde a sua luta com Clark. Dormira por cinco dias.
  Se alguma vez o Inferno estivera tão ocupado ninguém se lembrava.
  Demónios de baixo escalão corriam de um lado para o outro como baratas tontas. Lúcifer ordenara que todos os mortos fossem queimados nas chamas do Inferno por isso à meia dúzia de dias que os Yatagarasus não tinham descanso.
  Não é que esperasse ouvir que toda a gente sobrevivera mas não pôde evitar o choque dos números. O seu mestre, Deak, apesar de afirmar que estava tudo bem notava-se a tristeza nos seus olhos. Luka Kyofu e Luka Osore também pareciam desolados. Até Lúcifer, o tão frio e cruel Lúcifer, estava a sofrer pela morte de Mia.
  Kamiel fora visitá-la. Parecia que o seu Padrinho andava tão ocupado que nem dava pela presença do Anjo. Segundo o que lhe dissera, Furui, que por acaso decidiu voltar a morar com Warui, ficara encarregado de Law. Depois de uma punição iria entregá-lo a Niwashi onde ele iria ajudar com os imensos jardins do Mais Antigo Híbrido. Afinal Yuyuko havia morto o subordinado dele, Spike.
  As ninfas tinham partido dois dias atrás após tratarem de todos os feridos mais graves e Taiki também regressara para a terra dos Silfos depois de assinar um tratado de paz com o Inferno. Nem imaginava quem teria conseguido convencer Lúcifer a aceitar um tratado com os Elementares.
  Quanto aos Híbridos nos próximos tempos estariam de "férias". Tenshi precisava fazer reabilitação agora que perdera o braço e o olho direito, Ramon partira com as Black Heart e Mona Snake para um treino intensivo (nunca se vira o pequeno bruxo tão entusiasmado), Duf iria permanecer pelo Inferno para tomar conta de Tenshi, Shi continuaria no seu trabalho de controlar as chamas do Inferno como prometera à sua mãe, Yuyuko por muito que quisesse ficar do lado de Night Eyes decidira embarcar numa missão pessoal que não revelara a ninguém e Night Eyes ainda não sabia o que fazer, talvez ficasse por lá até as coisas acalmarem.
  Kira entra no quarto que lhe fora atribuído. Encontrar-se com Gabriel fizera-lhe muito bem.
  - Esperas ficar a dormir muito tempo? - Os olhos dele brilhavam.
  - É tão bom... - Night Eyes sorri manhosa.
  De um momento para o outro os olhos do anjo caído mudam de brilhantes para sérios.
  - Eu deixei-o ir.
  Night Eyes senta-se na cama.
  - Ele é a única pista que vocês têm, eu compreendo. Além disso não vamos falar de coisas desnecessárias. O que achas de irmos viajar?
  - Viajar?
  - Aposto que há sítios que queiras visitar e nós já precisávamos de umas férias.
  A mão de Kira pousa na cabeça de Sakuya afagando-lhe o cabelo e fazendo-a corar um pouco.
  - Parece-me uma ótima ideia.
  Poderia demorar tempo mas a Híbrida de anjo e demónio acreditava que o Inferno ia ultrapassar. Não fosse o rei o tão temido Lúcifer.
  Cinco dias atrás
  Quando chega ao local da batalha Kira depara-se com Night Eyes e Clark Werewolf deitados lado a lado. A única diferença é que Clark estava consciente e Night Eyes desmaiada.
  Encarando, com um olhar afiado, o Lobisomem, Kira pega o corpo da sua "mestre" ao colo e retira-se como se ele não passasse de paisagem.
  Não conseguia acreditar que haviam poupado a sua vida. Tivera sorte por não ser Lúcifer a ir procurar por Sakuya.
  Uma suave melodia aparece pairando no ar. Clark tenta levantar-se mas o seu corpo não lhe obedecia.
  - Para um rei és bastante vergonhoso.
  Uma rapariga carregando uma flauta mostra-se perante o rapaz.
  - Melody... Vieste acabar o trabalho?
  - Felizmente para ti a Queen-sama gosta da tua pessoa. - Virando a cara um pouco ruborizada a rapariga sussurra - E eu também.
  - Hum... Mesmo eu tendo falhado?
  - Ela já sabia que ias falhar. Está tudo a caminhar pelo caminho que ela traçou.
  - Eu nunca vou conseguir matá-la porque eu...
  Melody interrompe a confissão tocando uma nota e fazendo Clark adormecer.
  - Não te preocupes, vais mudar de ideias. Vamos Clark, a Queen-sama espera-nos.

*Imagem de Melody na página.
FIM 

5 Comentários de "Zasshu (Final)"

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C.C!
Esse é mesmo o final??
Não tem nenhum epílogo?...0_o

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C.CMod

Este vai ser o volume final. Mas ainda vai ter pelo menos uns 20 capítulos.

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Ah, que bom!
Bem que eu estava achando cedo para ser o final... :)

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Anónimo

Nossa se você tivesse me dito que acabava aqui eu chorava u-u! *o* quando vai escrever mais?? *-*
(Flávia =P)

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C.CMod

Não te preocupes, como expliquei à Mel-san ainda vai haver mais uns 20 capítulos.
E bem vinda de novo!