52 – Morte Dourada
Tiros e mais tiros
eram a música de fundo que se fazia ouvir acompanhada do cheiro da morte. As noticias
que corriam como rumores eram difíceis de acreditar. Havia tanta gente a morrer
que preferiam ignorar para não ter de lidar com a realidade.
Há algum tempo que
uma poça de sangue tinha a tendência apenas a aumentar, e com ela várias lágrimas
caíam em desespero.
Não é que
precisasse de ajuda mas para variar o seu pai insistia em protegê-la de tudo o
que significasse potencial perigo.
Apesar de não estarem
sozinhos os restantes aliados também se encontravam em situações complicadas.
Letty tentava ao
máximo manter os opositores longe de si mas como a sua arma consistia em
ataques a curta distancia atacar e defender era praticamente impossível. Por outro
lado Niall, que se aproximara daquela região à pouco tempo aniquilava sem
piedade quem chegava perto o suficiente da sua lâmina.
Resumindo não estavam
nem aí interessados para o que acontecia com os outros.
Mais uma bala que
se alojava numa perna. Era cruel mas a verdade é que Hana tornara-se um fardo
para o líder de Yellow.
- Pai, pára com
isso! Eles vão matar-te!
O sorriso confiante
de Johnathan, banhado pelo sangue, tentava trazer tranquilidade à filha.
Não era preciso ser
muito inteligente para perceber que à medida que o tempo passava os movimentos
dele ficavam mais lentos, a respiração acelerada e o próprio começava a sentir
a visão a falhar.
Morrer por perda de
sangue é mesmo uma morte horrível.
Finalmente o chefe
de Purple consegue livrar-se do grupo inimigo e aproximar-se do colega que só
por uma forte força de vontade ainda se mantinha de pé.
- Não achas que
estás a valorizar-te demais?
- E eu a pensar que
vinhas ajudar. – Ironiza Johnathan voltando a cuspir o já tão conhecido liquido
vermelho que insistia em agarrar-se a ele como um mensageiro da morte.
- Vais morrer,
sabes disso não sabes?
- Shiu! Queres que
a Hana te ouça?
- Até ela sabe que
a tua melodia está para acabar.
- Que problemático.
Pelo menos no final queria ser o super pai que ela sempre desejou.
- Nem todos os
super heróis são imortais.
O líder de Yellow
esboça uma tentativa de sorriso. Cada minuto que passava tornava a simples
tarefa de manter os olhos abertos torturante. A sensação de que uma força do
Além arrancava a sua alma do corpo só conformava o que mais temia. O ridículo e
frágil corpo que Deus lhe dera chegara ao limite.
“De todos os finais
que imaginei para mim este é de longe o mais gratificante. Protegendo a minha
vila, os meus homens, a minha cidade e especialmente a minha preciosa filha.”
As pernas cedem. Sem
forças para resistir os joelhos batem contra o chão. Ia morrer ali e aceitava o
seu destino de bom grado.
O brilho de uma
lâmina ofusca-lhe a pouca visão que lhe restava. Parece que alguém decidira
encurtar-lhe o sofrimento.
O tinir do choque
entre metal puxa a sua consciência à força.
- Pai! – Hana travava
a lâmina da faca inimiga com a sua espada. – Aguenta!
- Eu trouxe-o! – O grito
estridente de Letty chama a atenção. Enquanto não se davam conta a rapariga
eliminara os inimigos que a cercavam e correra a procurar um médico.
Incubo, que até
agora fizera tudo para não dar nas vistas, vinha arrastado quase pelo chão.
- Pessoal façam uma
barreira. Protejam o Doutor enquanto ele cuida do meu pai! – O pedido, clamado como
ordem, de Hana faz a maioria dos aliados dos arredores juntarem-se à barreira
humana entre o exército inimigo e o líder da vila Yellow.
O médico ajoelha-se
naquele chão imundo onde o corpo do seu paciente se mantinha na mesma posição.
- Johnathan,
consegue ouvir-me? – Os dedos encostam-se ao pescoço do homem. A pulsação era
quase inexistente.
- Doutor… – O fio
de voz que se ouvia transmitia as dificuldades que ele tinha em falar.
- Não se esforce. Vou
fazer tudo o que conseguir para o estabilizar.
- Não precisa… Já
estou morto de qualquer forma e sabe isso. Só tenho…um pedido.
Incubo baixa os
braços pronto a ouvir o último desejo daquele homem moribundo. Infelizmente nunca
se habituava àquilo por isso tentava ultrapassar o desconforto com ironia:
- Espero que tenha consciência
do tipo de pagamento que recebo.
- Suponho…que
deixarei…uma divida. – O sorriso que o médico lhe mandara parecia tão longínquo.
– Por…favor, não a deixe…saber que morri enquanto ela não…estiver em segurança…
Diga-lhe que…fui ter com…a mãe dela…primeiro…
O corpo sucumbe
finalmente cedendo ao peso da morte. Um raio de sol desce. Os cabelos louros de
Johnathan brilhavam agora manchados de vermelho. O leão dourado de Zona Obscura
acabara de partir para a próxima vida.
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